O processo de expulsão dos dois ainda não foi concluído, uma década depois do crime. Cláudio recebe mensalmente R$ 39.497,40. Já Daniel ganha R$ 10.583, 05.
“Pra família gera uma indignação tremenda né? Porque o que que acontece? Se você levar em conta que já são dez anos, né? E até hoje eles não foram expulsos e o pior ainda: além de não ser expulso, ainda se torna um um peso para a sociedade”, diz Wilson Junior, ex-marido e pai dos filhos de Patrícia.
Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que “a sua competência nos trâmites administrativos relativos aos dois oficiais já foi cumprida, repassando para instâncias superiores”. “Os processos na Justiça permanecem aguardando as decisões da Casa Civil e da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, onde tramitam.”
Apesar do alto número de mortes por intervenção policial no estado, não há, em nenhum órgão oficial do Rio, dados contabilizados que mostrem quantos autos de resistência viraram processo e, consequentemente, foram concluídos com a absolvição ou condenação de policiais envolvidos.
Em 2016, na conclusão da CPI dos Autos de Resistência, conduzida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo, o relatório final detalhou os últimos estudos que contabilizavam o prosseguimento dos registros de mortes provocadas por policiais.
Em um deles, de 2005, um levantamento do sociólogo Michel Misse mostrou que 707 pessoas foram mortas e 510 registros de ocorrência foram parar nas delegacias. Desse total, foram instaurados 355 inquéritos. Dois anos depois,19 chegaram ao Tribunal de Justiça: 16 foram arquivados e apenas um havia sido julgado. À época, outros dois aguardavam julgamento.
Impacto da morte na família
Patrícia Acioli é descrita pelos familiares como uma pessoa determinada, que não se escondia de brigas nem tinha medo de enfrentar riscos para defender o que acreditava. Ao mesmo tempo, era uma mãe amorosa e uma filha presente.
“Tem uma frase que ela falava, que deixava até no gabinete dela, e falava sempre que era: ‘Para o triunfo do mal, basta que os bons não façam nada'”, diz Ana Clara, filha de Patrícia.
“Patrícia sempre foi muito destemida, né? Muito determinada”, diz Simone Acioli, irmã de Patrícia. “Tudo que ela fazia era com sucesso. Queria fazer Direito na Uerj, passou de primeira no vestibular. Quando fez a prova para a Defensoria, também passou no primeiro concurso. Depois ela resolveu ser juíza, também passou de primeira.”
Os familiares contam que a morte desestruturou a família e tem impactos até hoje. “A perda dela desestruturou a nossa família. Minha mãe tem Alzheimer, mas ficou muito deprimida depois da morte da Patrícia. As duas sempre foram muito agarradas. Então, minha mãe ficou realmente muito deprimida e a doença piorou muito depois da morte da minha irmã.”
Simone Acioli conta que o caso afetou a saúde dos familiares.”Então, se você pegar um histórico do julgamento, os dois anos, até nas fotos do enterro, minha mãe ainda está de pé. Nas últimas, minha mãe já estava em cadeira de rodas. E a minha outra irmã também ficou bem deprimida um tempo, por conta disso também. Enfim, a família inteira.” Fonte G1RJ