
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) costuma dizer que “não errou nada” na pandemia. No caso da previsão sobre a vacinação no Brasil, porém, errou por muito: em janeiro deste ano, fez a previsão de que “menos da metade” da população iria escolher tomar a vacina contra a Covid-19. O que as pesquisas indicam – e a disposição dos brasileiros em enfrentar horas de fila e até viajar para outros estados para buscar as doses confirma – é que o Brasil tem um dos maiores índices de aceitação da vacina no mundo.
O movimento antivacinação existe no Brasil e causa problemas à estratégia nacional de imunização, mas seus efeitos não se comparam aos estragos que o negacionismo gera nas nações mais ricas, que têm vacinas à disposição e mesmo assim uma parcela relevante da população vem recusando se proteger contra a Covid-19.
Um dos casos mais emblemáticos é o dos Estados Unidos, que começaram a vacinar ainda em 2020, com 56% da população totalmente imunizada. No país, a recusa vacinal tem forte componente político-ideológico, sobretudo em estados de maioria republicana. Há duas semanas, o presidente americano, Joe Biden, acusou governadores, como Greg Abbott, do Texas, e Ron DeSantis, da Flórida, de atrapalharem a luta contra a Covid, que já matou mais de 660 mil pessoas nos EUA.
“Proponho uma exigência para as vacinas, e os governadores chamam isso de movimento do tipo tirânico?”, reclamou Biden. “Esse é o pior tipo de política, e me recuso a ceder”, completou.
Outros países desenvolvidos enfrentam protestos de rua e até vandalismo contra postos de vacinação e ameaças a profissionais de saúde. A cidade de Melbourne, na Austrália, registrou violentos atos contra a vacinação obrigatória nas últimas semanas, com confrontos com a polícia que resultaram em 200 prisões num único dia.
Na Itália, autoridades deflagraram uma operação no início do mês, nas principais cidades do país, contra radicais que planejavam, em grupos no aplicativo Telegram, atos violentos, inclusive com armas, em manifestações antivacina. Na província canadense de Quebec, a assembleia precisou votar uma lei proibindo a realização de protestos antivacina a menos de 50 metros de hospitais, escolas e postos de vacinação – que estavam tendo o funcionamento prejudicado por militantes mais radicalizados.
Na França, onde também ocorrem manifestações de rua contra passaportes da vacina, pesquisa realizada em agosto apurou que 24% da população não pretendia se vacinar, mesma porcentagem da Austrália.